Cárie oculta, reabsorção intracoronal ou reabsorção radicular e coronal?
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Cariologia

Você já se deparou com uma “cárie oculta”? Ou, alguma vez fez uma radiografia de controle sem esperar ver nada patológico e simplesmente teve a surpresa de um “achado radiográfico” e “ops, uma cárie desse tamanho na radiografia e eu não vi nada clinicamente?”. Pois bem, você tem grandes chances de ter se deparado com uma “reabsorção pré-eruptiva intracoronal”, já ouviu?

Então, presta atenção que esse post é para você (já adianto que será breve, da forma mais simples, direta e objetiva para que se um dia você se deparar com essa lesão, poder se lembrar: “Ah! Já li na academia e já sei do que se trata!”. É para isso que estamos aqui!

O que vamos abordar neste post?

O que é “Reabsorção pré-eruptiva intracoronal”?

A “reabsorção pré-eruptiva intracoronal” já foi conhecida como “cárie pré-eruptiva” ou “cárie oculta”, podendo acometer dentes decíduos ou permanentes, sendo mais prevalente na dentição permanente (apenas tendo 2 relatos na literatura acometido na dentição decídua). É uma reabsorção anormal, assintomática na dentina, bem circunscrita, radiolúcida, localizada perto da junção amelodentinária em dentes não irrompidos (opa! Presta atenção que aí é que está a grande questão!).

Na maioria das vezes observa-se este defeito nas radiografias de controle, por exemplo em documentação ortodôntica, pois dificilmente teremos uma indicação de fazer radiografia em dentes não irrompidos para controle, apenas em casos bem específicos como algum atraso considerável da dentição ou impactação e anquilose.

Como o “primeiro achado” é na radiografia, o que você vai observar:

  • Lesão bem circunscrita;
  • Lesão radiolúcida;
  • Lesão começando na junção amelodentinária;
  • Pode se estender até a polpa (mas já adianto que quando observamos essa lesão ainda no Raio X, dificilmente vai ter comprometimento pulpar nesse estágio!).
reabsorção radicular e coronal

Clinicamente observamos:

  • O tecido é amolecido (fique atento, sem um diagnóstico certo pode ser facilmente confundido com lesão cariosa ativa, pois o defeito está na junção amelodentinária podendo se estender para camadas mais profundas da dentina, mas raramente envolve a polpa);
  • A coroa do dente aparenta estar intacta (isso mesmo, o esmalte não tem nenhuma alteração, a lesão está abaixo dele!);
  • O acesso será por oclusal, teremos que desgastar dente sadio, como se fosse fazer um selante dos “velhos tempos” invasivo (qual essa sensação? Um aperto no coração de desgastar a estrutura sadia sem “saber” onde vai cair.. E aí caiu! Isso mesmo, a sensação é de “cair no vazio” como se naquela região o dente já tivesse sido preparado e muito bem preparado por sinal, bem redondo!).
Qual a diferença entre “reabsorção pré-eruptiva intracoronal” e cárie oculta?

Muitas teorias têm sugerido a etiologia da reabsorção pré-eruptiva intracoronal, porém a mais aprovada é a hipótese de que é um defeito adquirido resultado da reabsorção do tecido por células parecidas com osteoclastos e células inflamatórias que invadiram a dentina através de micro perfurações da coroa em sua formação (e é aí que está exatamente a diferença com uma lesão cariosa). A “doença cárie” é multifatorial é a desmineralização da estrutura dentária causada pela liberação de ácido originado da fermentação de carboidratos, ou seja, um desequilíbrio entre dieta e higiene.

A reabsorção pode ser dividida em 3 tipos dependendo da profundidade da lesão, do tipo I ao III com relação a proximidade com a polpa. A lesão cariosa, já tem um desenvolvimento não regular, não circunscrito podendo afetar apenas o esmalte, esmalte e dentina, com progressão até atingir a polpa. Porém, se a lesão cariosa já atingiu a polpa, necessariamente ela está no esmalte e na dentina. Além disso, a lesão de cárie só pode acontecer a partir do momento em que o dente é exposto à cavidade bucal, presença de biofilme cariogênico e não correta higienização.

Outra diferença significativa é que alguns estudos já sugeriram associação deste defeito com:

  • Posição ectópica;
  • Atraso no desenvolvimento do dente;
  • Presença de supranumerário.

Pensa comigo: o tamanho da cavidade em relação ao curto espaço de tempo que dente esteve na boca deve nos alertar de que é improvável que seja uma lesão cariosa. Por exemplo, a literatura relata que em alguns dentes afetados, a polpa é invadida logo após a erupção do dente e mesmo assim, a maioria dos fatos relata que a lesão é assintomática até a polpa ser afetada… Tem sentido isso ser uma cárie? E mais, se a reabsorção acontece em apenas um dente, como será que não foi escovado apenas um exato dente na boca para ter acúmulo de placa bacteriana e essa evolução?

reabsorção radicular e coronal
Como tratar a reabsorção pré-eruptiva intracoronal?

O prognóstico desse defeito é diretamente proporcional à proximidade da reabsorção com a polpa. Quanto mais profunda, pior o prognóstico. O tratamento varia de selantes oclusais, tratamento restaurador ou até mesmo mais invasivo como endodontia ou extração. Quando o defeito é relativamente pequeno, pode ser apenas monitorado; nos casos maiores e que há uma progressão considerável, o indicado é expor cirurgicamente o dente e restaurar a reabsorção para impedir o comprometimento pulpar.

De acordo com uma revisão sistemática realizada em 2020, a abordagem ideal na decisão dos tratamentos leva em consideração a progressão da lesão, o tamanho da lesão, estado de erupção do dente e o grau de envolvimento pulpar (e eu acrescentaria, o melhor tratamento é aquele que é decidido com os pais/responsáveis da criança; na odontopediatria sabemos que não podemos considerar apenas o dente, mas também outros fatores, como: o manejo comportamental, idade da criança, atendimento com sedação ou não, e opção estética).

Espero que tenha gostado da leitura e aprendido mais um diagnóstico diferencial!

Bons estudos.

Beijos

Carla S. Pereira.

Texto redigido por Carla S. Pereira.

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Carla Pereira

Graduada em Odontologia pela UFSC em 2009
Especialista em Odontopediatria - PUC/PR, 2011
Habilitação em Sedação Consciente com Óxido Nitroso, 2011
Mestre em Odontologia / Área de Concentração Odontopediatria - UFSC/SC, 2015
Clínica Privada em Curitiba/PR desde 2009.
Presidente da ABOPED, Regional Santa Catarina 2017/2019.
Professora e Coordenadora do Curso de Especialização e Atualização em Odontopediatria desde 2015
IAPD Membro do board 2019/21, 2021/23, 2023/25 - Membership Committee
Idealizadora da CAIXA GUIA - Odontopediatria, 2015
Clinical Adviser NuSmile no Brasil, desde 2019
Co-Fundadora e Diretora Acadêmica da Academia da Odontologia, 2020
Professora e Coordenadora do Curso de Especialização e Atualização em Odontopediatria - Caxias do Sul/RS desde 2022
Idealizadora do Estabilize, 2023
Fundadora, Membro e Secretária Financeira da SOBRASO

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