Como fazer a seleção dos anestésicos locais em odontologia?
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Anestesia

Bom, se você já me conhece, sabe que sigo a ideia de escolher o anestésico adequado para o procedimento em si, levando em consideração a anamnese e o planejamento. Então vamos ver comigo a seleção dos anestésicos locais em odontologia?

O que vamos abordar neste post:

O que eu quero dizer com isso é, que se na anamnese estiver tudo bem, o paciente não ter problema nenhum, ele é saudável e não tem restrições e dependendo o que eu vou fazer com o paciente, eu posso sim escolher um ou outro tipo de anestésico. Eu já adianto que em 95% dos meus procedimentos eu escolho um anestésico só, isso por vários motivos, sendo o principal é que, se eu estou acostumada com um determinado tipo de anestésico, eu já sei o tempo de sedação, eu já sei como ele funciona ou não, a dose mais ou menos automática para o procedimento, o cálculo por peso da criança e assim por diante.

Porém, é muito importante a condição previa do paciente, se ele pode ou não receber aquele determinado sal anestésico, e depois disso vem a preferência e escolha do profissional. Os anestésicos locais utilizados na odontologia, são do tipo amida. No texto de hoje a gente vai conversar sobre 3 tipos: a lidocaína, a mepivacaína e a articaína.

Fatores que devem ser considerados na escolha dos anestésicos locais em odontologia

De acordo com Malamed, há 4 fatores devem ser considerados para a escolha dos anestésicos. E quais são esses 4 fatores?

  1. A necessidade em potencial de controle da dor depois do procedimento – se você tem um tratamento com maior possibilidade de dor pós operatória, você tem que optar por um anestésico que dure mais.
  2. O segundo fator que deve ser considerado de acordo com Malamed é a possibilidade de automutilação no período pós operatório – por esse motivo não se usa bupivacaína em odontopediatria, o tempo de ação dela é muito longa quando comparada com a articaína.
  3. O terceiro fator relatado por Malamed é a necessidade de hemostasia – isso quer dizer que quando a gente precisa de uma hemostasia considerável naquele procedimento, a gente precisa de um anestésico que tenha vasoconstrItor.
  4. O quarto item seria a presença de qualquer contraindicação absoluta ou relativa àquele sal anestésico escolhido.

Considerando então um paciente saudável, vamos falar um pouco dos principais anestésicos injetáveis utilizados em odontopediatria.

Como fazer a seleção dos anestésicos locais em odontologia?
Tipos de anestésicos locais mais utilizados em odontologia
Cloridrato de Lidocaína

O uso do cloridrato de lidocaína ou lidocaína como anestésico injetável foi um marco bem importante na odontologia. A lidocaína é o “padrão ouro” na odontologia. Esse sal anestésico possui início de ação rápida, 3 a 5 minutos, sendo que sua concentração eficaz é de 2%.

A meia-vida da lidocaína é de aproximadamente 90 minutos. O efeito na polpa, depois de você anestesiar, é cerca de 60 minutos, enquanto que, nos tecidos moles seu tempo de ação é cerca de 3 a 5 horas. Esse sal anestésico também é seguro para uso em gestantes, sendo classificada na categoria B. A lidocaína também é segura para ser usada durante a amamentação, sendo que sua dose máxima recomendada, com ou sem adrenalina, com ou sem vasoconstritor no caso, é de 7 mg/kg em pacientes adultos e pediátricos, não excedendo a dose máxima de 500 mg.

A lidocaína para o uso odontológico pode ser adicionada a um vasoconstritor, importante para retardar a absorção e toxicidade e controlar o sangramento. Para um paciente odontológico típico, por exemplo, principalmente em crianças, a gente deve dar preferência a lidocaína 2% com adrenalina a 1.000 a 100 mil comparada com a lidocaína 2% com a adrenalina 1 para 50 mil. Os dois anestésicos proporcionam a mesma duração e a mesma profundidade, ou seja, independente da concentração da adrenalina da solução de 100.000 ou 50.000 eu vou ter a mesma região e profundidade anestesiada, com a mesma dose da lidocaína que você faz o cálculo. Portanto, quando a lidocaína for sua opção de escolha, opte pela lidocaína a 2% com adrenalina 1 para 100 mil.

Cloridrato de Mepivacaína

O cloridrato de mepicavaína, ou mepicavaína, é muito utilizada por quem atende pacientes adultos. A mepicavaína não tem seu uso muito difundido na odontopediatria. A mepicavaína tem uma característica muito interessante, pois produz uma ligeira e rápida vaso dilatação, isso significa que sem o vasoconstritor ela tem uma duração de anestesia superior a lidocaína, ou seja, na polpa esse anestésico pode chegar a 20 minutos em anestesias tipo infiltração, 40 minutos no bloqueio, o que torna um anestésico de eleição quando precisamos de um anestésico sem vasoconstritor.

Quando comparado a mepivacaína e a lidocaína sem vasoconstritor, a mepivacaína responde melhor. A concentração eficaz da mepivacaína é de 3 % sem vasoconstritor e 2% com vasoconstritor, podendo ser epinefrina de 1 para 100 mil ou a levonordefrina 1 para 20 mil.

Esse sal anestésico possui meia-vida de 1,9 horas mais ou menos 2 horas, sendo classificada para gestantes no grupo C, ou seja, ela é um pouco menos segura que a lidocaína para gestantes. Sua dose máxima recomendada é de 6,6 mg/kg ou 3 mg/kg de peso corporal, não podendo ultrapassar 400mg. Porém, quando comparada sua ação com o vasoconstritor e a lidocaína, nossa opção de escolha fica sendo a lidocaína.

Apesar da maior parte dos acidentes relatados com morte em odontopediatria serem com a mepi sem vaso, a causa disso esta muito mais associada a dose utilizada. Em virtude da sua rápida absorção, o profissional acaba fazendo uma sobredosagem. Por isso, bastante atenção quando utilizar anestésico sem vasoconstritor, é fundamental entender que o efeito deste sal anestésico é rápido e que você deve calcular a dose máxima de forma precisa.

Cloridrato de Articaína

O cloridrato de articaína é considerado um anestésico potente em virtude de seu peso molecular. Este sal anestésico é cerca de 1,5x mais potente que a lidocaína. Sua concentração odontológica eficaz é de 4% com adrenalina 1 para 100 mil ou 1 para 200 mil, sendo que o início da ação da articaína na infiltração é cerca de 1 a 2 minutos e de 2 a 3 minutos na anestesia de bloqueio mandibular, portanto, é bem rápida.

Já a articaína de 1 para 100 mil, tem inicio de ação de 1 a 2 minutos na anestesia infiltrativa e de 2 a 2,5 minutos no bloqueio mandibular. Sua meia-vida é cerca de 27 minutos.

Para gestantes, sua classificação também fica em C, ou seja, menos seguro que a lidocaína e a mesma classificação da mepicavaína, portanto, a lidocaína é a droga de escolha para gestantes. Seu uso durante a amamentação também é desconhecido, portanto, é melhor não usar ou usar com bastante cautela.

A dose máxima recomendada pela FDI é de 7 mg/kg para os pacientes adultos, sendo que na bula da articaína, não é recomendada para uso em crianças menores de 4 anos.

A articaína de 1 para 100 mil tem o efeito na polpa de 60 a 75 minutos e sobre os tecidos moles de 3 a 6 horas, já a articaína de 1 para 200 mil possui de 45 a 60 minutos, então mais ou menos 45 minutos a 1 hora na polpa, podendo ir de 2 a 5 horas em tecidos moles.

Um dos motivos que eu gosto muito dela é que o início dela é muito rápido e possui alto indicie de sucesso.

Por agora eu deixo como exemplo este artigo que chegou a conclusão que “A anestesia com a articaína infiltrativa tem o mesmo efeito que uma lidocaína de bloqueio”. Ou seja, teoricamente, você não precisa mais fazer bloqueio no paciente caso você não queira fazer e caso você queira uma ação mais rápida do anestésico no teu procedimento, faz uns 10 anos que eu não faço mais bloqueio para nenhum procedimento em dente decíduo, usando a articaína, todos eu consigo resolver com a infiltrativa.

A dica então que eu posso dar para vocês na escolha do anestésico, é uma só, tentar trabalhar o máximo possível com um protocolo único, ou seja, escolha sempre o mesmo anestésico para situações clinicas específicas, dentro de uma técnica de eleição, porque a partir do momento que você tem essa experiência, você já se torna capaz de identificar os pequenos erros que estão te levando ao insucesso daquele procedimento.

É o que eu sempre digo, quanto mais acostumado você está com um produto, da maneira que ele trabalha, com o protocolo, com um jeito de trabalhar, melhor vai ser seu diagnóstico quando alguma coisa der errado, não adianta a cada hora você mudar um anestésico, você nunca vai saber onde está o motivo do insucesso do procedimento.

Muitos fatores afetam a profundidade e a duração da ação desses anestésicos, o que pode aumentar ou diminuir o efeito.

Os fatores que podem diminuir ou aumentar o efeito dos anestésicos são:
  1. Resposta individual da substância, já que cada pessoa tem um estímulo diferente.
  2. Precisão onde você deposita o anestésico local, ou seja, onde exatamente que está indo o liquido.
  3. Condição em que se encontra o tecido na infiltração no local da substância, como por exemplo um PH ou até mesmo a vascularização.
  4. Relação anatômica, nem sempre as crianças da mesma idade e gênero tem a mesma anatomia bucal.
  5. Tipo de injeção administrada, como por exemplo, se é infiltração ou bloqueio.

Espero que tenha te ajudado na escolha do anestésico local para seu paciente.

Grande abraço.

Por Carla S. Pereira.

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Carla Pereira

Graduada em Odontologia pela UFSC em 2009
Especialista em Odontopediatria - PUC/PR, 2011
Habilitação em Sedação Consciente com Óxido Nitroso, 2011
Mestre em Odontologia / Área de Concentração Odontopediatria - UFSC/SC, 2015
Clínica Privada em Curitiba/PR desde 2009.
Presidente da ABOPED, Regional Santa Catarina 2017/2019.
Professora e Coordenadora do Curso de Especialização e Atualização em Odontopediatria desde 2015
IAPD Membro do board 2019/21, 2021/23, 2023/25 - Membership Committee
Idealizadora da CAIXA GUIA - Odontopediatria, 2015
Clinical Adviser NuSmile no Brasil, desde 2019
Co-Fundadora e Diretora Acadêmica da Academia da Odontologia, 2020
Professora e Coordenadora do Curso de Especialização e Atualização em Odontopediatria - Caxias do Sul/RS desde 2022
Idealizadora do Estabilize, 2023
Fundadora, Membro e Secretária Financeira da SOBRASO

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