Atendimento do atleta adolescente - Academia da Odontologia
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Odontologia do esporte

O esporte como atividade física é muito importante não apenas para o desenvolvimento físico e motor do atleta adolescente ou criança, mas também para o desenvolvimento social. A partir de suas regras e condições, as crianças conseguem compreender formas de superar a timidez, trocando experiências, competindo e respeitando regras, freando seus impulsos e ansiedade, ajudando uns aos outros e aprendendo a ser mais colaboradoras e menos individualistas, a reconhecer que existe alguém que sabe mais, a ter responsabilidades e, sendo assim, crescendo física e emocionalmente. Por esse motivo, quando temos um atendimento do atleta adolescente no consultório, você sabe o que observar?

Por isso os pais estão cada vez mais preocupados em inserir seus filhos em atividades esportivas que possam contribuir para seu desenvolvimento psicossocial.

Entretanto, inerente às atividades físicas está o risco dos traumatismos e, com o crescimento do número de praticantes nas atividades esportivas e, sendo as crianças progressivamente incentivadas a participarem destas atividades, existe o aumento da incidência de traumatismos orofaciais (TOF) de forma substancial, fazendo com que aumente o número de pacientes atletas que utilizem protetores bucais esportivos.

Por isso, é importante que o cirurgião dentista, odontopediatra ou clínico geral, esteja apto para atender o paciente atleta adolescente que busca atendimento odontológico. Nesse contexto a primeira consulta ganha destaque com esses pacientes, buscando identificar os fatores de risco específicos que o deixam mais propensos a desenvolver certas lesões ou doenças bucais.

Na primeira consulta, uma proveitosa anamnese deve conter perguntas direcionadas (mas que dão espaço para que o atleta “conte suas histórias”), seguido de um detalhado exame clínico extra e intraoral.

Uma anamnese completa deve conter:

  • Natureza do esporte, regras, quesitos e características – influenciará diretamente no tipo de traumatismo que podemos esperar em determinada modalidade, ou doenças/lesões bucais relacionadas à fatores ocupacionais como exposição solar;
  • Volume e periodização de treinos –  treinos muito intensos e longos, sem momentos de descanso entre eles, tem relação com a baixa da imunidade que geralmente produz manifestações bucais e sistêmicas;
  • Tipo de respiração e biotipo facial – importante identificar o padrão respiratório na infância, pois o mesmo pode interferir no ritmo de treino, como no caso de respiradores bucais;
  • Uso de medicação (inclusive hormonal) – CD deve identificar possíveis medicações que acusam doping positivo, ou que terão interação com medicamentos que serão prescritos por ele. Lembrando que hormônios como testosterona são considerados doping;
  • Funcionamento do ciclo menstrual – É uma consequência do treinamento intenso e diminuição da gordura corporal (magreza excessiva) a desregulação do ciclo menstrual e diminuição de hormônios circulantes (pois a gordura é precursora desses hormônios). Essa situação traz algumas consequências, sendo a mais grave delas a perda de densidade óssea, uma vez que hormônios sexuais femininos também tem influência no metabolismo ósseo;
  • Histórico de saúde pessoal e familiar – este é um grupo de informações relevantes para qualquer paciente, não apenas atletas. Desta etapa da anamnese surgem questionamentos importantes e abrimos espaço para as “histórias informais” que muitas vezes explicam justamente as queixas odontológicas dos nossos pacientes;
  • Hábitos parafuncionais – são muito comuns nos atletas, inclusive como uma manifestação do estresse e ansiedade relacionados às suas funções esportivas e competições e devem ser questionados na anamnese;
  • Detalhamento da dieta e suplementos – é importante verificar se a dieta do atleta possui grandes quantidades de carboidrato e/ou glicose associadas, pois além da dieta ser um fator de risco, também vamos lidar com a hipossalivação durante o exercício e uma possível queda na proteção imune, também derivada do exercício intenso;
  • Histórico de tratamento odontológico – com essa informação já conseguimos detalhes referentes ao manejo do paciente para tratamentos odontológicos, e a sua relação com os potenciais tratamentos futuros, como por exemplo, um tratamento endodôntico associado a um episódio traumático;
  • Histórico de traumatismo dentário – um paciente que já sofreu um traumatismo dentário na atividade esportiva tem grandes chances de sofrer novamente, pois está exposto aos fatores de risco associados a esta lesão. Além disso, se for um dente restaurado, que conta com a adesão do material ao dente, podemos ter uma lesão reincidente porém ainda mais extensa;
  • Experiência prévia com uso de protetores bucais esportivos – é interessante saber se o atleta é adepto do uso de dispositivos de proteção como o protetor bucal esportivo e mais importante ainda, saber QUAL protetor bucal que é utilizado, pois isso tem tudo a ver com a potencial lesão traumática.

No exame clínico intra e extraoral, é necessário incluir exame de ATM, avaliação da musculatura de cabeça e pescoço, oclusão, tecidos moles, face (pele, cicatrizes e manchas) para entender os tipos de trauma que eu atleta esta sujeito.

A riqueza de detalhes nesta primeira consulta é imprescindível para tratar e principalmente prevenir alterações de normalidade que possam tirar o atleta do ritmo de treino e limitar sua performance. Outras informações, como cronograma de competições, podem também orientar o cronograma de consultas futuras e possibilitar a conclusão de procedimentos clínicos sem atrapalhar a rotina do atleta, podendo inclusive prepará-lo para competições importantes.

A preocupação do profissional em relação a estes critérios mostra conhecimento e valoriza sua consulta do atleta adolescente, mostrando que você está preocupado com o bem estar de seu paciente como um todo e não somente com a saúde bucal.

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Por Ana Clara Padilha.

Referências: Gallagner, J; Ashley, P; Needleman, I. Oral health and performance impacts in elite and professional athletes. Community Dent Oral Epidemiol. 2018; 46:563- 568. & Cordeiro, J; Forte, L; Neri, J; Santos, S; Gomes, F; Lima, D. Fatores etiológicos e prevalência de lesões bucofaciais em surfistas de Fortaleza, Rev. Bras de Ciências do Esporte, 2018.

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Professora Ana Clara Loch Padilha

Especialista em Odontologia do Esporte e em Endodontia
Mestre e Doutora em Odontologia - UFSC/SC
Professora de graduação da Uniavan e de pós-graduação do IOA Style
Presidente da Academia Brasileira de Odontologia do Esporte - ABROE

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