Endodontia com CTZ: Tudo o que você precisa saber
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Endodontia

Tratamentos endodônticos em dentes decíduos, assim como nos permanentes, são indicados para tratar pulpites irreversíveis ou necroses pulpares, provenientes de traumatismos ou lesões de cárie. A endodontia objetiva eliminar microorganismos, a fim de recuperar o dente em aspectos funcionais e prevenir infecções, assim, a pulpectomia convencional obtém esses objetivos por meio da remoção total de todo tecido pulpar coronário e radicular e que por meio de um preparo químico-mecânico, todas as ações buscam esse resultado. 

Porém, tratando-se de dentes decíduos, há uma complexidade microbiológica e morfológica ainda maior, devido às diversas ramificações e canais acessórios, principalmente no assoalho pulpar. Além disso, devemos levar em consideração o comportamento da criança e limite de tempo de trabalho para que elas continuem cooperando para que um correto protocolo do procedimento seja fielmente seguido. Com base nisso, uma alternativa para facilitar a técnica seria a endodontia com pasta CTZ, visto que não há a necessidade de instrumentar os canais.

O que é CTZ?

Pensando em materiais obturadores para dentes decíduos, temos diversas opções. Ainda não há um único material obturador que cumpra todos os requisitos ideiais.

Se você tem dúvidas sobre material obturador nos dentes decíduos, confira este post aqui.

Visando a esfoliação do dente decíduo, as pastas e cimentos endodônticos são os materiais de escolha para a obturação e, dentre elas, a pasta CTZ foi sugerida há mais de 50 anos por Cappiello e Soller, Odontopediatra e Endodontista respectivamente. Com o intuito de reduzir os passos da técnica de pulpectomia convencional em dentes decíduos, a pasta tem o diferencial de não ser necessária a instrumentação dos canais.

Mas como acontece esse efeito se o material infectado não é removido?

A eficácia dessa técnica é resultante da sua composição: uma combinação de agentes antibióticos! Ela é composta por Cloranfenicol (antibiótico), Tetraciclina (antibiótico) e Óxido de Zinco (antibacteriano). Esses três componentes são manipulados com Eugenol garantindo sua ação analgésica. 

Vantagens e desvantagens

Dentre as suas vantagens, temos a redução de tempo de trabalho, o que é bastante importante em crianças imaturas ou pouco colaboradoras. É capaz de reduzir abscessos e infecções e por consequência elimina a dor. Além disso, tem um bom custo-benefício, o que pode ser empregado na rede pública e privada. Na rede pública pode evitar que muitos dentes acabem sendo extraídos por falta de tratamento especializado. Já as desvantagens, podemos destacar a alteração de cor no dente tratado que devido a sua composição com tetraciclina, os dentes ficam de cinza a marrom na maioria dos casos. Os pais devem estar cientes dessa alteração, e uma dica é mostrar fotos de dentes decíduos que já receberam o tratamento. Outra desvantagem, apesar de ser utilizada em algumas instituições de ensino há vários anos, ter diversos estudos, ser efetiva e não causar danos, ainda não tem alta evidência científica. 

Quando devo usar?

A pasta CTZ foi sugerida por Cappiello tanto para biopulpotomias como para necropulpectomias. No entanto, os resultados alcançados em polpas necrosadas são mais relevantes que em polpas vitais. Em necroses, há a redução da lesão tanto clinicamente como radiograficamente e redução da mobilidade patológica.

Apresentação

Há duas formas de apresentação, ambas em pó. Podemos ter cápsulas com proporções já estabelecidas ou vir todo o conteúdo de pó em um único potinho. Geralmente essa pasta é comprada em farmácias de manipulação mediante a receitas realizadas pelo dentista. A proporção é de 2 partes de Óxido de Zinco, para 1 de Tetraciclina e 1 de Cloranfenicol e o Eugenol é adicionado apenas no momento da manipulação. A consistência que deve ser alcançada é de pasta, parecida com a de um dentifrício comum, não havendo uma padronização exata de proporção pó e líquido para a manipulação.

Passo a passo da técnica

Diferentes estudos abordando essa técnica têm algumas pequenas variações em relação ao protocolo. Assim como não há padronização de proporção, também não há um único protocolo preconizado. Segundo eles, a técnica pode variar de acordo com a experiência de cada profissional e abordagem. Algumas das diferenças entre os estudos inclui o tipo de isolamento e técnica de irrigação.

Ou seja, há relatos de tratamentos endodônticos com a pasta CTZ utilizando isolamento relativo e outros com isolamento absoluto. Outra peculiaridade de alguns estudos é de não utilizar seringas de irrigação, e sim bolinhas de algodão, geralmente quando o isolamento é relativo.

Portanto, essa é uma sugestão de técnica, mas os estudos estão disponíveis para acesso para você decidir qual será a melhor abordagem para cada caso.

  1. Radiografia inicial;
  2. Anestesia local e isolamento absoluto;
  3. Remoção de todo tecido cariado;
  4. Abertura endodôntica do dente para acesso a câmara pulpar com brocas de alta rotação;
  5. Remoção da polpa coronária com brocas de baixa rotação;
  6. Irrigação com solução de hipoclorito;
  7. Irrigação com soro fisiológico;
  8. Secagem da câmara pulpar com bolinhas de algodão estéril;
  9. Manipular a pasta CTZ com Eugenol em uma placa de vidro;
  10. Inserir a pasta no assoalho da câmara pulpar e entrada dos canais radiculares. Dica: após colocada, pode ser acomodada com bolinhas de algodão estéril. 
  11. Para selar a medicação pode ser usado coltosol ou guta-percha. 
  12. Por fim, para um bom resultado, uma restauração bem-feita é importante!

Também gravei um vídeo durante a técnica, confere o vídeo abaixo.

Por fim, o uso da pasta CTZ pode ser bastante eficaz e vantajoso como alternativa do protocolo convencional de pulpectomia. Apesar de não ter evidências científicas de alto nível, é utilizada há vários anos por clínicos experientes e teve sua eficácia relatada em diversos estudos. Sendo assim, a pasta CTZ pode ser utilizada em dentes com necrose pulpar, incluindo fístulas e abscessos tendo a redução de passos o diferencial para crianças de difícil comportamento e cooperação. Também evita que dentes decíduos sejam extraídos, conseguindo devolver todas as funções além de eliminar a infeção. Apesar de poucos passos e materiais necessários, deve ter um bom diagnóstico, ser cautelosamente realizada e selada com uma excelente restauração para prolongar seus resultados.

Separei alguns artigos para você consultar:

Também separei uma lâmina muito interessante do resultado final depois do dente decíduo após o procedimento do CTA, então convido você a preencher o formulário abaixo para ter acesso à essa lâmina!

Espero que tenham gostado!

Abraços!

Por Carla S. Pereira.

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Carla Pereira

Graduada em Odontologia pela UFSC em 2009
Especialista em Odontopediatria - PUC/PR, 2011
Habilitação em Sedação Consciente com Óxido Nitroso, 2011
Mestre em Odontologia / Área de Concentração Odontopediatria - UFSC/SC, 2015
Clínica Privada em Curitiba/PR desde 2009.
Presidente da ABOPED, Regional Santa Catarina 2017/2019.
Professora e Coordenadora do Curso de Especialização e Atualização em Odontopediatria desde 2015
IAPD Membro do board 2019/21, 2021/23, 2023/25 - Membership Committee
Idealizadora da CAIXA GUIA - Odontopediatria, 2015
Clinical Adviser NuSmile no Brasil, desde 2019
Co-Fundadora e Diretora Acadêmica da Academia da Odontologia, 2020
Professora e Coordenadora do Curso de Especialização e Atualização em Odontopediatria - Caxias do Sul/RS desde 2022
Idealizadora do Estabilize, 2023
Fundadora, Membro e Secretária Financeira da SOBRASO

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